A concentração ininterrupta na
informação sensorial recebida, particularmente a percepção visual, cria a
ilusão do “tempo a correr mais devagar”. Neste estado, o atleta vê os objectos
e os acontecimentos com mais clareza e parece-lhe ter mais tempo para tomar as
decisões correctas. Esta percepção visual pode ser interrompida pela imaginação
(medos, ansiedade ou frustrações), por pensamentos auto-críticos (“anda lá, mete essa bola no cesto!”), pela agressividade verbal (“eu nem lhe
toquei, senhor árbitro”) ou por outras percepções sensoriais (tensão muscular,
fadiga ou dor). Quando a percepção visual é interrompida, então “tudo acontece
demasiado depressa”.
A ideia-chave para perceber a
concentração é o processo de focagem. Focagem é o processo mental de sintonizar
num canal (de informação) enquanto desligamos os outros canais. Duma forma
simplista, o nosso cérebro funciona como uma TV. Há inúmeros canais que podemos
escolher e, apesar de podermos mudar de canal sempre que nos apetecer, só
podemos pôr um deles no ecrã de cada vez. Exemplos de canais que todos temos
são: visão, audição, olfacto, gosto, tacto, imaginação, sede, dor, percepção
corporal, voz interior, etc… Quando nos focamos no sistema visual, estamos mais
alerta para objectos no nosso campo de visão mas, ao mesmo tempo, menos
receptivos a mensagens captadas pelos sentidos da audição, do tacto, do olfacto
ou do paladar. Ao focarmo-nos no sentido visual (sensações que existem no
presente) deixamos de ser incomodados por “repetições” de imagens sensoriais
passadas. E ainda bem que é assim! Imaginem o que seria se os nossos canais
mentais (como numa TV) apresentassem a informação toda ao mesmo tempo no
“ecrã”. Seria a confusão total. Daí que a nossa focagem não possa ser feita em
dois ou mais canais em simultâneo. Assim que um dos canais passa a ser o centro
da nossa atenção, todos os outros desvanecem, se desfocam…
Para ilustrar a importância da
focagem de atenção (concentração) apropriada, imagina-te a receber a bola numa reposição
em jogo contra uma defesa zona pressionante. Nesse preciso momento dois
jogadores da equipa contrária fazem-te 2 contra 1. O que pensas que acontecerá
se, em vez de focares a tua “TV mental” no canal da visão para encontrar o
colega livre, a sintonizas no último turnover que fizeste quando estiveste numa
situação destas? Por outro lado, pensa no quanto é simples encontrar o colega
livre se a tua mente não estiver distraída com informação não visual. Passar ao
colega livre é, essencialmente, um problema visual (identificação rápida/instantânea).
Não é, usualmente, um problema de fraca técnica de passe. Resumindo, sair com
sucesso de uma situação de pressão é um desafio mais mental do que físico
Apesar do exemplo anterior
ilustrar a importância de uma focagem adequada, no basquetebol a concentração
dentro do campo implica mais do que apenas sintonizar no canal correcto. Em
algumas situações necessitamos de informação muitíssimo específica, enquanto
noutras precisamos de ver o quadro global, o campo todo. Isto pode ser
ilustrado com as diferenças que existem entre executar um lançamento e defender
quando o “meu” jogador não tem a bola. Ao lançar foco-me especificamente no
cesto, que é um campo visual fino. Quando defendo o homem sem bola devo ver o meu
homem e a bola, o que implica ter que, em muitíssimas situações, ter o campo
inteiro dentro do meu campo visual, tornando-o um campo visual largo. Weiskopf
(1975) sugeriu os termos “soft centering”
(focagem larga) e “fine centering”
(focagem fina) para distinguir entre estes dois tipos de captação de informação
sensorial. De modo a conseguir optimizar o desempenho, devemos então ganhar bons
hábitos de expandir ou contrair o alvo da nossa visão.
Como já vimos, o basquetebol
tem tanto de jogo físico como de jogo mental. Porquê, perguntarão ainda
alguns? Porque é que a concentração, a compostura e a confiança são tão
importantes na excelência desportiva? A resposta continua a ser simples: qualquer
movimento do corpo é controlado pela mente. Então, como controlar a nossa concentração
no decurso de treinos e competições? Seguramente através do treino da percepção
mental aliado a uma atenção selectiva que também se treina...
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