quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Treino Mental - Visão e Concentração


A concentração ininterrupta na informação sensorial recebida, particularmente a percepção visual, cria a ilusão do “tempo a correr mais devagar”. Neste estado, o atleta vê os objectos e os acontecimentos com mais clareza e parece-lhe ter mais tempo para tomar as decisões correctas. Esta percepção visual pode ser interrompida pela imaginação (medos, ansiedade ou frustrações), por pensamentos auto-críticos (“anda lá, mete essa bola no cesto!”), pela agressividade verbal (“eu nem lhe toquei, senhor árbitro”) ou por outras percepções sensoriais (tensão muscular, fadiga ou dor). Quando a percepção visual é interrompida, então “tudo acontece demasiado depressa”.

A ideia-chave para perceber a concentração é o processo de focagem. Focagem é o processo mental de sintonizar num canal (de informação) enquanto desligamos os outros canais. Duma forma simplista, o nosso cérebro funciona como uma TV. Há inúmeros canais que podemos escolher e, apesar de podermos mudar de canal sempre que nos apetecer, só podemos pôr um deles no ecrã de cada vez. Exemplos de canais que todos temos são: visão, audição, olfacto, gosto, tacto, imaginação, sede, dor, percepção corporal, voz interior, etc… Quando nos focamos no sistema visual, estamos mais alerta para objectos no nosso campo de visão mas, ao mesmo tempo, menos receptivos a mensagens captadas pelos sentidos da audição, do tacto, do olfacto ou do paladar. Ao focarmo-nos no sentido visual (sensações que existem no presente) deixamos de ser incomodados por “repetições” de imagens sensoriais passadas. E ainda bem que é assim! Imaginem o que seria se os nossos canais mentais (como numa TV) apresentassem a informação toda ao mesmo tempo no “ecrã”. Seria a confusão total. Daí que a nossa focagem não possa ser feita em dois ou mais canais em simultâneo. Assim que um dos canais passa a ser o centro da nossa atenção, todos os outros desvanecem, se desfocam…

Para ilustrar a importância da focagem de atenção (concentração) apropriada, imagina-te a receber a bola numa reposição em jogo contra uma defesa zona pressionante. Nesse preciso momento dois jogadores da equipa contrária fazem-te 2 contra 1. O que pensas que acontecerá se, em vez de focares a tua “TV mental” no canal da visão para encontrar o colega livre, a sintonizas no último turnover que fizeste quando estiveste numa situação destas? Por outro lado, pensa no quanto é simples encontrar o colega livre se a tua mente não estiver distraída com informação não visual. Passar ao colega livre é, essencialmente, um problema visual (identificação rápida/instantânea). Não é, usualmente, um problema de fraca técnica de passe. Resumindo, sair com sucesso de uma situação de pressão é um desafio mais mental do que físico


Apesar do exemplo anterior ilustrar a importância de uma focagem adequada, no basquetebol a concentração dentro do campo implica mais do que apenas sintonizar no canal correcto. Em algumas situações necessitamos de informação muitíssimo específica, enquanto noutras precisamos de ver o quadro global, o campo todo. Isto pode ser ilustrado com as diferenças que existem entre executar um lançamento e defender quando o “meu” jogador não tem a bola. Ao lançar foco-me especificamente no cesto, que é um campo visual fino. Quando defendo o homem sem bola devo ver o meu homem e a bola, o que implica ter que, em muitíssimas situações, ter o campo inteiro dentro do meu campo visual, tornando-o um campo visual largo. Weiskopf (1975) sugeriu os termos “soft centering” (focagem larga) e “fine centering” (focagem fina) para distinguir entre estes dois tipos de captação de informação sensorial. De modo a conseguir optimizar o desempenho, devemos então ganhar bons hábitos de expandir ou contrair o alvo da nossa visão.

Como já vimos, o basquetebol tem tanto de jogo físico como de jogo mental. Porquê, perguntarão ainda alguns? Porque é que a concentração, a compostura e a confiança são tão importantes na excelência desportiva? A resposta continua a ser simples: qualquer movimento do corpo é controlado pela mente. Então, como controlar a nossa concentração no decurso de treinos e competições? Seguramente através do treino da percepção mental aliado a uma atenção selectiva que também se treina...

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