A característica mais
impressionante da confiança é o quanto ela é uma construção tão frágil para
tantas pessoas. O desporto está cheio de altos e baixos que podem ter impacto
na nossa confiança. Há uma grande dose de falhas naturais em todos os
desportos. A título de exemplo, os grandes quarterbacks
no futebol americano fazem passes incompletos em 40% das ocasiões; os jogadores
de basquetebol de topo falham cerca de 50% dos lançamentos que fazem; os
melhores batedores no baseball falham
70% dos batimentos que tentam; os grandes avançados do futebol apenas acertam
na parte de dentro das redes em cerca de 10% das tentativas. Ou seja, até os
melhores atletas “lutam” com os seus desempenhos periodicamente e com a
necessidade de reparar, restaurar e reconstruir a sua confiança.
A falta de confiança faz com que
alguns atletas se retraiam, parem de comunicar e se tornem distracções para os
seus colegas de equipa. No fundo, a verdadeira confiança deve vir de dentro de
cada um. Deves acreditar em ti e em quem és como pessoa. Esta é a única forma
de levares os outros a confiarem em ti. Ao invés de narcisista, arrogante ou
egoísta, deves estar confortável contigo e aceitar-te por quem és.
Há quatro fontes principais de confiança que todos os atletas
(e não só) usam para criar, construir e manter a sua confiança:
1) Preparação – uma das melhores fontes de
confiança é lembrarmo-nos da quantidade e da qualidade de trabalho duro que já
fizemos. Trabalho árduo e uma excelente preparação são as pedras basilares da
confiança. Se eu me aplico ao máximo na tarefa de melhorar o meu jogo, tenho o
direito a estar confiante. Sei que paguei o preço do sucesso. Quando sei que
trabalhei tanto ou mais do que a pessoa com a qual estou a competir, tenho o
direito a acreditar que posso competir com essa pessoa e vencê-la. A confiança
é, então, algo que se conquista pela qualidade com que se treina. Se existirem
áreas da preparação em que detectas falhas, então devem ser essas as áreas a
que deves dedicar mais atenção no futuro próximo;
2) Auto Percepção (Pontos Fortes) – outra
excelente forma de construir a confiança é fazer uma lista de todos os pontos
fortes que possuímos enquanto atletas. O que faço bem? Quais os meus trunfos no
aspecto físico? (velocidade, rapidez, força, flexibilidade, resistência, etc.)
Que aspectos do jogo são as minhas melhores “armas”? (manejo de bola,
lançamento, defender, etc.) Quais são as minhas competências comportamentais (competitividade,
ética de trabalho, atitude, persistência, brio, etc.) Mais uma vez, não se está
aqui a recomendar que sejamos convencidos ou arrogantes. Mas é necessário saber
quais são os nossos trunfos e termos orgulho neles, pois só assim saberemos
usá-los durante a competição. Se lutas com a tua confiança por ser um
perfeccionista, deves deixar de ser tão crítico contigo próprio. Se não
consegues fazer uma lista dos teus pontos fortes, pede a alguém da tua
confiança para te ajudar nessa tarefa. Os teus colegas de equipa e o teu
treinador verão algumas competências que talvez nem sequer penses ter no
momento. Aceita os comentários deles e força essa cabeça a acreditar, em vez de
tentar negá-los ou ficar embaraçado com essas opiniões;
3) Memória (Sucessos Passados) – Reflectir
acerca de sucessos passados é também uma excelente forma de aumentar a
confiança. Lembra-te de algumas jogadas-chave que realizaste ao longo da tua
vida. Se conseguiste nessas situações, então já mostraste a ti e a outros que
tens o que é necessário para ter sucesso. Se a competência física está lá, só é
necessário a recordação mental de modo a que voltes a ter um bom desempenho
quando viveres uma situação semelhante, mesmo que noutro contexto. Até as derrotas
e as tentativas mal sucedidas são importantes para construir a confiança, desde
que se saibam retirar os devidos ensinamentos;
4) Elogios – usar as palavras e as acções
de outros pode ser também uma forma de construir a nossa confiança. Pensa numa
situação em que alguém que realmente admiras te fez um elogio. Como te
sentiste? A crença dessa pessoa em ti não te fez acreditar em ti mais um pouquinho?
Idealmente, podes olhar para trás e lembrar-te de palavras elogiosas de
colegas, treinadores, adversários, pais, professores, amigos, conhecidos ou
outros. Usa estes elogios para te recordares que tens o que é necessário para
teres o sucesso ambicionado.
Apesar destes serem os quatro
pilares em que assenta a confiança, devemos ter o cuidado de não atribuir peso
excessivo aos elogios. Claro que podem ajudar a “aumentar” a nossa confiança
esporadicamente, mas não os podemos usar como única (ou sequer como principal)
fonte de confiança. Porquê? Duas razões. Em primeiro lugar porque este é um
aspecto não controlável da nossa preparação, devendo-nos focar sempre nos
aspectos que podemos controlar. Em segundo lugar, porque podemos encontrar-nos
num contexto em que os elogios não são dados com frequência. Se precisamos de
outros para nos dar confiança e a pessoa que nos lidera não o faz, essa
confiança vai acabar por “morrer de fome”. Estas são as principais razões pelas
quais nos devemos sempre preparar para realizar mais do que nos pedem,
recebendo menos reconhecimento do que aquele que consideramos justo. E aumentar
a confiança com o que realizamos, ao invés de a deixar cair pela ausência de
palavras elogiosas.
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