A teoria dos “semáforos” implica sempre a existência de “contágios”.
Com efeito, quando alguém lidera pelo exemplo deve ter em conta que o melhor
meio para colocar a sua equipa num semáforo verde é estar, ele próprio, num
estado de “semáforo verde”. Mas como atingir esse estado tão desejado?
Aqui estão algumas das rotinas usadas por atletas de alta
competição, antes de um treino ou de uma prova, para atingir o tal semáforo
verde.
1) Revisão dos planos de jogo ou dos dados
estatísticos: se fores um atleta que gosta de rever mentalmente o plano
para o jogo, deves focar-te em 3 a 5 questões-chave que aumentem as
probabilidades de tu e a equipa terem sucesso;
2) Visualização: podes visualizar-te a
passar por momentos importantes do treino ou jogo. Imagina-te a jogar da forma
mais eficaz possível, seja a executar as diferentes tarefas do jogo, seja a
atacar o teu adversário directo;
3) Reflexão/Oração: podes preferir
isolar-te e “esvaziar” a cabeça de modo a fortalecer o teu estado de espírito
para os momentos que se avizinham. Se as tuas crenças religiosas são uma fonte
de força para ti, uma pequena oração pode ser o suficiente (Exemplo de Pelé: "Meu Deus, por favor faz com que a minha equipa ganhe; mas se não ganhar, pelo menos que não perca; e se tiver que haver empate ao menos que seja 5 a 5 para o povo ir embora satisfeito");
4) Ouvir música: podes preferir ouvir
música enquanto te preparas para competir. A música é, obviamente, uma escolha
individualizada, pelo que os headphones
são obrigatórios. Se achas que jogas melhor quando estás enérgico, encontra uma
música que te deixe assim. Caso contrário, se é relaxado e calmo que o teu
desempenho melhora, encontra uma música que te acalme. A música é um excelente
meio para encontrar o estado mental mais adequado ao momento que se avizinha;
5) Conversar com colegas de equipa: se
fores um atleta que gosta de relaxar conversando com os colegas (e não se
isolando ou pensando demais na competição), provavelmente o melhor será brincar
informalmente um pouco com eles para evitar que a ansiedade se instale;
6) Ver vídeos: uma óptima forma de atingir
o estado desejado é observar vídeos de equipas de sucesso (inspiradoras), se
possível complementados com música;
7) Dormir ou tomar um duche: se preferires
avançar para a competição depois de um momento de descanso, o melhor será fazer
uma pequena sesta após o almoço. Outra sugestão é um duche para refrescar;
É fácil
mantermo-nos no semáforo verde quando a equipa está a ganhar, quando as faltas
são bem marcadas e quando estamos a jogar bem. Bem diferente é a realidade
quando as coisas não correm como desejamos. É nesse momento que a capacidade de
liderança de cada um de nós emerge. A “chave” encontra-se no semáforo
amarelo. Porquê? Porque como seres humanos que somos, é impossível estarmos
no semáforo verde 100% do tempo. O segredo deste processo é conseguir
identificar quando entramos num semáforo amarelo.
É importante,
neste ponto, relembrar que somos nós que controlamos a cor do semáforo em que
nos encontramos. Muitas vezes atribuímos a causa da mudança de cor a um
determinado episódio ou evento. Nada mais errado. Não é a situação que causa a
nossa mudança do verde para amarelo ou vermelho, mas sim a nossa interpretação dessa(s)
situação(ões). Muda a tua interpretação e mudarás a cor…
Diagnosticar a
aproximação de um semáforo amarelo é, então, crucial para manter o controlo da
situação e, consequentemente, a compostura. Assim que diagnosticamos a cor
amarela, a tarefa é focar a nossa atenção de modo a reentrar no semáforo verde.
Se não reconhecermos os amarelos ou se não tivermos capacidade para refocar
eficazmente, estamos a caminho da cor vermelha. Como é óbvio, depois
de entrar no vermelho é muitíssimo difícil voltar ao verde, pelo que é decisivo
conseguir refocar a atenção enquanto estamos no amarelo. Se conseguirmos
diagnosticar a tempo o afastamento da cor verde, uma das seguintes estratégias
pode ser utilizada para regressar rapidamente.
a) Abrandar:
o esforço para refocar no que é importante deve começar pelo abrandamento do
ritmo a que estamos a jogar/treinar. Aperta os atacadores, ajusta o
equipamento, põe a camisola por dentro dos calções, bebe água, etc. Faz
qualquer coisa que te permita ter algum “espaço” para estancar o momento
negativo. Durante estas pausas pode ser usada qualquer das seguintes
estratégias para refocar no essencial;
b) Focar
nos aspectos controláveis: quando estamos num amarelo ou num vermelho, a
realidade tende, como vimos antes, a acelerar mais do que desejamos. A melhor
forma de controlar a situação é ganhar o auto-controlo físico e emocional. É
decisivo perceber o que controlamos e o que não controlamos nestas situações. Aspectos
que não controlamos são, por exemplo, as decisões do treinador, colegas de
equipa, árbitros, público, oficiais de mesa, adversários, condições ambientais,
equipamento, viagens, obrigações académicas, tempo de jogo, jornalistas, expectativas
de amigos e familiares, etc. Exemplos de aspectos que controlamos e sobre
os quais nos devemos conseguir focar rapidamente são: atitude, esforço,
compromisso, confiança, alimentação, descanso, respostas às diferentes situações,
comunicação, linguagem corporal, preparação, etc. Sempre que te encontres numa
situação difícil a primeira pergunta deve ser: é controlável ou não
controlável? Se não é controlável é urgente parar a subida da frustração e
ignorar ou ajustarmo-nos à “nova” realidade. Se é controlável, deve ser
assumida a responsabilidade por readquirir o controlo e agir imediatamente.
Controlar os aspectos controláveis parece simples (e é), mas a maioria dos
atletas tem dificuldade em libertar-se do que está fora do seu controlo. O
treino serve para disciplinar as capacidades de refocar sob stress e de assumir
a responsabilidade pelos aspectos controláveis. Só assim se atingirá o sucesso;
c) Focar
no presente: a maioria das vezes que atingimos o amarelo deve-se à
frustração associada a erros cometidos no passado. Quantas vezes ficaste
frustrado com uma falha no início de um jogo e essa falha te acompanhou por
minutos, horas ou até dias? Muitos atletas têm dificuldades em recuperar de um
erro ou de uma falha. Em vez de avançarem, ficam presos na repetição mental da
falha, aumentando assim a frustração (e isto é especialmente verdade para os
mais perfeccionistas). E assim acabam a lutar contra si próprios porque uma
porção da sua atenção ainda está no passado. E se uma porção está no passado,
então o foco não está 100% no presente. Algumas técnicas para focar no presente
são as seguintes:
i) Respirar fundo: pode ser útil para
libertar frustrações passadas e distracções, sobretudo quando expiramos;
ii)
Diálogo Interno + Palavras-Chave: pode
ser bom iniciar um diálogo interno do tipo “toma atenção a este aspecto”, “uma
coisa de cada vez” ou “foca-te nisto e foca-te já”. O treinador de Duke, Mike
Krzyzewski usa a expressão “próxima (jogada)!” para que os jogadores esqueçam os
erros do passado recente e se foquem nas posses de bola seguintes;
iii) Aprender a lição: é sempre bom converter
os erros e falhas em lições. Em vez de focarmos a atenção no que não fizemos
bem, foquemo-nos na lição aprendida e na forma como essa lição será aplicada
daí em diante. É inteligente tentar aprender o máximo sobre nós próprios,
colegas, treinadores e adversários para que essa informação aumente as
probabilidades de sucesso no futuro.
d) Focar
no que é positivo: devemo-nos focar nas acções positivas que queremos ter e
não nos erros que queremos evitar. Se nos focarmos nos aspectos negativos que
queremos evitar, o nosso corpo e a nossa mente confundem-se e surge a
frustração. Ao visualizar e imaginar acções positivas, o cérebro pode focar-se
mais eficazmente em fazê-las mesmo acontecer.
e) Focar
nos processos: o resultado de uma competição está directamente dependente
da nossa habilidade para nos focarmos nos processos dessa mesma competição. O
foco deve ser contínuo e nas pequenas acções (fundamentos) que nos colocam numa
melhor posição para obter o que ambicionamos. Qual é o processo que conduz ao
sucesso no nosso jogo? O que é preciso para conseguir os resultados
pretendidos? Na esmagadora maioria das vezes este foco é nas “pequenas”
variáveis que controlamos: assiduidade, compromisso com treinos de qualidade
máxima, abordar todas as questões com atitude positiva, desenvolver as
diferentes forças (sobretudo física e mental), trabalhar em conjunto com
colegas de equipa e treinadores, etc. Ao trabalhar estas componentes do processo
de conquista, estamos a criar as condições para mais facilmente atingirmos os
resultados ambicionados.
Jogar com compostura não implica que sejamos robots desprovidos de emoções.
A compostura é o acto de aprender a gerir positivamente as emoções. As emoções positivas
devem ser expressas, dentro do que é razoável. Celebrar o nosso sucesso e o dos
nossos colegas de equipa deve ser feito, sempre sem perder a perspectiva do
respeito pelo adversário (atenção que não queremos dar-lhes doses extra de
motivação!). As emoções positivas são então um factor determinante para o
sucesso nos desportos colectivos e cada um de nós pode ser o motor desta
positividade. Por outro lado, assim como é positivo mostrar as emoções
positivas, devemos fazer o nosso máximo para “esconder” as emoções negativas
que vão surgindo. Por vezes isto implica disfarçar a frustração ou, pelo menos,
tentar aligeirá-la para evitar perdas de controlo. Se não conseguimos controlar
as nossas emoções negativas, o resultado será a distracção dos nossos colegas
de equipa e o possível contágio dos mesmos. Daí que as técnicas apresentadas
neste texto devam ser experimentadas e treinadas, de modo a mantermo-nos a nós
e aos nossos companheiros de equipa sempre no semáforo verde do controlo
emocional.
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