quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Treino Mental - Confiança



Por esta altura já devem ter percebido o quanto os 3 C’s (Compostura, Concentração e Confiança) são interdependentes. Se imaginarmos o desempenho como assente neste “tripé”, sem confiança os outros dois “pilares” sucumbiriam. Com confiança a estrutura completa-se e mantém-se firme. Talvez a melhor forma de ilustrar o quanto a confiança ajuda a um bom desempenho seja olhar para como os pensamentos negativos o condicionam.

A falta de confiança influencia o rendimento de dois modos. Em primeiro lugar, os pensamentos negativos podem facilmente tornar-se profecias auto-realizáveis. Atletas que não acreditam nas suas capacidades esforçam-se menos para as desenvolver. “Escondem-se” do trabalho de modo a usar o fraco empenho como desculpa para eventuais prestações menos conseguidas. Pode-se afirmar que o medo e a ansiedade perante a possibilidade de falhar impedem alguns atletas de dar permanentemente o seu melhor. A reacção impotente de um “perdedor” ao medo de falhar é o que impede verdadeiramente esse atleta de atingir o sucesso.

O segundo problema de “pensar negativo” é o facto de a nossa mente comandar o nosso corpo. Qualquer atleta que tenha pensamentos negativos acerca da sua competência para driblar não poderá evitar ser um mau driblador devido às imagens mentais que mostram movimentos vagos ou descoordenados. Por outro lado, qualquer atleta que mantenha imagens claras e positivas do seu drible terá maior probabilidade de ser um melhor driblador, pelo mesmo facto de o nosso cérebro comandar o nosso corpo.

Os atletas confiantes não gostam de cometer erros, mas conseguem recuperar rapidamente de uma falha e focar na próxima acção com optimismo. E tu? Como reages quando cometes um erro? Desistes? Ignoras? Culpas outra pessoa? Ou aprendes, diriges o teu foco para a próxima acção e corriges a fonte da falha? Se não consegues fazê-lo sempre, certamente te irá ajudar saber como os atletas de alto rendimento encaram os erros. Eles consideram que todas as suas falhas são temporárias, localizadas e alteráveis. Se conseguires ter uma abordagem semelhante perante o insucesso, certamente te tornarás mais resiliente.

Temporárias – “depois da tempestade vem (sempre) a bonança”; este provérbio ilustra inteligentemente a forma como atletas de alto rendimento vivem a adversidade. É algo que ocorre durante um período limitado de tempo. Ao seres paciente e persistente verás que a situação melhorará;

Localizadas – algumas pessoas têm uma tendência natural para exagerar a dimensão dos problemas. Como portugueses, todos sofremos geneticamente desse atributo. Pessoas confiantes são as que conseguem limitar os seus problemas ao contexto em que eles ocorrem. Isto quer dizer que não é por eu ter má nota a História que vou chumbar a Inglês. Mantém a adversidade sob perspectiva e limita o seu alcance.

Alteráveis – algumas pessoas acreditam seriamente que o destino controla as suas vidas. Acreditam que são impotentes no que diz respeito à adversidade. Sentem-se pequenas e que não há nada que possam fazer para mudar a situação. As pessoas confiantes são optimistas porque sabem que basta um ajuste na sua abordagem, interpretação ou atitude mental para fazer uma enorme diferença. Continuam a tentar porque acreditam que têm a capacidade de influenciar e, por vezes mesmo, controlar o seu próprio destino.

A nossa mente age de acordo com quatro leis fundamentais (Stan Kellner em “Taking It to the Limit”), sendo de destacar, para a compreensão da confiança, as três primeiras:

1)      A imagem de ti próprio determina o teu desempenho;

2)      Melhora a imagem de ti próprio e o teu desempenho melhorará;

3)     A mente nem sempre reconhece as diferenças entre uma experiência real e uma experiência imaginada;

4)      Cada atleta tem um mecanismo de sucesso – o seu subconsciente.

Para quem ainda duvidar, uma experiência que demonstra o terceiro princípio enunciado atrás é a que se segue: “Fecha os olhos. Imagina que seguras um limão. Está na tua mão direita. Podes sentir a frescura e as imperfeições da sua casca amarela. Tenta apertá-lo um pouco. Consegues sentir a sua firmeza? Cheira o limão. Agora, mentalmente, corta o limão com uma faca, dá-lhe uma dentada e sente o seu sabor ácido e o travo amargo. Se usaste a tua imaginação, por esta altura a tua boca já está a salivar”.

Esta característica do nosso cérebro permite obter resultados interessantíssimos recorrendo à visualização. Para o demonstrar, relato-vos a famosa “Experiência dos Lances Livres”. Num estudo sobre os efeitos do treino mental no desempenho desportivo, uma turma de estudantes universitários foi dividida em três grupos. No início da experiência todos os alunos foram testados e foi registada a sua percentagem de eficácia da linha de lance livre. Nos 20 dias seguintes, o Grupo 1 treinou 20 minutos por dia. O Grupo 2 foi o grupo de controlo e não fez qualquer tipo de treino nesses 20 dias. Ao Grupo 3 foi pedido que lançassem lances livres “imaginários” durante 20 minutos por dia, nesses mesmos 20 dias. A este grupo não foi permitido qualquer treino com bola. No final da experiência, os alunos foram novamente testados e os resultados foram surpreendentes para a data (1960). O grupo de controlo teve igual desempenho ao que tinha tido na sessão inicial. O Grupo 1, que treinou os 20 minutos por dia teve um aumento na percentagem de 24%. O Grupo 3, que usou apenas treino mental, subiu a sua percentagem em 23%. Por outras palavras, o grupo que usou apenas treino mental teve resultados semelhantes aos do grupo que treinou com bola. A melhor notícia é que todas as nossas experiências imaginadas podem ser bem sucedidas, o que pode sempre transformar imagens negativas em imagens positivas.


A falta de confiança é, geralmente, o resultado de más imagens mentais, ao passo que a verdadeira confiança resulta de imagens positivas que advêm de acreditar nas próprias capacidades. Contudo, não devemos confundir pensamentos positivos com puros desejos. Os pensamentos positivos precisam de elementos da realidade e duma sensação de real possibilidade de melhoria do desempenho. Os pensamentos positivos nos quais não acreditamos honestamente são chamados desejos. A nossa mente apenas aceita e reage de acordo com ideias que considera reais. Dizer a mim próprio que vou ter uma grande noite nos lançamentos ao cesto não reduz a ansiedade, a não ser que eu tenha verdadeira confiança na minha competência como lançador.

Para além de termos confiança nas nossas capacidades, para atingirmos o alto rendimento devemos ainda ter a confiança de que estaremos confiantes nos momentos necessários. Isto é, devemos ter a confiança necessária nos 3 C’s no decurso de treinos e competições. Se não consigo relaxar o suficiente para reduzir a tensão física e mental no treino ou nos jogos, não serão os pensamentos positivos que resolverão esse problema quando chegarem os momentos decisivos. Sem controlar os 3 C’s não terei qualquer controlo sobre as minhas competências técnicas, físicas ou tácticas em situações de stress competitivo.

A confiança é, então, uma questão de aprender, treinar e ter tido sucessos passados. Ou, nas palavras de John Wooden, a confiança advém de estarmos preparados. Se quiseres desenvolver a verdadeira (e total) confiança no teu jogo deves preparar-te totalmente para a competição – fisicamente, mentalmente e emocionalmente. Deves começar por desenvolver a técnica e a concentração para lançar, manejar a bola, defender e ressaltar. Em segundo lugar, e tão decisivo como os outros aspectos, deves desenvolver técnicas de relaxamento que te permitam controlar as emoções e a tensão física. Por último, deves manter-te em excelente forma física através de treinos de força e resistência. Com a devida dedicação a uma preparação total saberás que estás preparado para jogar ao teu melhor nível.

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