Até há
bem pouco tempo julgava-se que o processo decisório se consubstanciava apenas
com base num único elemento: a razão. O líder era visto como pessoa frontal,
directa, que decide a frio, com rigor, sem dúvidas, sem emoções, distanciado,
fora do mundo das incertezas e da ambiguidade, no mais alto patamar da
organização. Ser emocional ou mostrar sentimentos era sinónimo de fraqueza, o
que então não era permitido, tal como ainda hoje tende a acontecer. Mas a realidade
está a mudar…
António
Damásio define emoção do seguinte modo: “reacção
automática a uma série de ameaças ou oportunidades que se põem a um organismo
vivo”. As emoções são então consequência (sobretudo) de estímulos
exteriores e predispõem-nos para a acção e a reacção. Se as emoções nos fazem
reagir de forma automática, presume-se que essa reacção não depende de nós
enquanto opção única da razão, logo, será legítimo afirmar que estamos
condenados a trabalhar com elas em todos os processos activos das nossas vidas.
Tal como não conseguimos não pensar, também não conseguimos pensar sem emoções.
O velho “penso, logo existo” deu hoje lugar ao “sinto, logo existo”.
Todos
sabemos que o excesso de emoções nos traz alterações comportamentais. O que não
sabíamos é que, sem emoções, não somos capazes de decidir e, pura e
simplesmente não decidimos. Daí que seja pertinente levantar a questão: sendo
as emoções parte integrante da nossa vida, se a sua ausência ou excesso nos
provocam alterações comportamentais, se estamos condenados a viver com elas,
será racional da nossa parte deixá-las actuar sem qualquer tipo de controlo ou
de influência sobre elas? Será razoável olhar para as emoções sem perguntar
como e de que forma nos poderão ser mais úteis?
Como podemos optimizá-las nos nossos actos? E sendo elas um factor
fundamental do nosso comportamento, como ter um controlo mais efectivo sobre elas?
Tomemos como exemplo o sistema
circulatório do ser humano. O que está a acontecer no meu sistema não afecta o
do meu vizinho. Não é isto, de forma alguma, o que acontece no domínio das
emoções, porque estas interagem entre os diversos indivíduos. Neste caso
falamos em sistema aberto, uma vez que a minha alegria ou a minha tristeza
provocam (ou podem provocar) alterações do estado emocional àqueles que comigo
lidam. Daí que possamos, no domínio das emoções, falar de “contágio”.
Podemos aqui abordar, a propósito
do “contágio” emocional, a “Teoria dos Semáforos” proposta por Ken Ravizza no
livro “Heads Up Basketball”. O primeiro passo para gerirmos o que quer que seja
é termos a percepção clara do “objecto” a gerir. Neste caso o objecto são as
nossas emoções e os comportamentos associados, ou seja, a gestão da nossa
compostura. Quando estamos compostos,
confiantes e controlados podemos dizer que estamos num semáforo verde. O
semáforo amarelo aparece quando nos sentimos distraídos, frustrados e confusos.
Finalmente, nas situações em que perdemos o controlo e só queremos explodir ou
desistir, atingimos o semáforo vermelho. Esta analogia entre o desempenho
emocional e os semáforos ajuda a ter uma percepção mais clara dos diferentes
estados de espírito em que nos encontramos e possibilitará, como irão ter oportunidade
de constatar futuramente, gerir melhor emoções e, consequentemente,
comportamentos:
Verde –
composto, optimista, confiante, focado, determinado, comunicativo, encorajador,
postura corporal correcta, agressividade competitiva;
Amarelo
– frustrado, inseguro, negativo, queixoso, distante, distraído, confuso,
revoltado;
Vermelho –
zangado, fora de controlo, apático, resignado, postura corporal incorrecta,
assustado, emotivo.
Qualquer atleta
já experienciou, por vezes até quase em simultâneo, estes três diferentes
estados de compostura. É frequente passar por dois destes estados no decurso de
qualquer treino ou competição. É fácil estar no verde quando estamos a jogar
bem. Podemos cair no amarelo quando o treino/jogo não corre tão bem ou quando
os árbitros apitam de forma diferente da que achamos justa. No vermelho
entramos quando começamos a lutar contra nós próprios e a perder o controlo
emocional. Num dos próximos textos serão explicadas as formas de detectar
sinais amarelos/vermelhos e o que fazer para voltar rapidamente ao semáforo
verde do alto rendimento.
Para terminar, deixo-vos as sensações que foram descritas por vários desportistas de alta competição quando questionados sobre o que sentiram nos momentos de melhor rendimento das suas carreiras: “relaxamento mental”, “tempo a passar mais devagar”; “foco no presente”; “percepção elevada do próprio corpo e dos corpos dos atletas à sua volta”; “capacidade máxima de antecipação e resposta”.Em oposição, temos a descrição da sensação mais frequentemente associada ao sinal vermelho: “tudo acontece muito depressa”…
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