terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Treino Mental - Reconhecer as Emoções


Até há bem pouco tempo julgava-se que o processo decisório se consubstanciava apenas com base num único elemento: a razão. O líder era visto como pessoa frontal, directa, que decide a frio, com rigor, sem dúvidas, sem emoções, distanciado, fora do mundo das incertezas e da ambiguidade, no mais alto patamar da organização. Ser emocional ou mostrar sentimentos era sinónimo de fraqueza, o que então não era permitido, tal como ainda hoje tende a acontecer. Mas a realidade está a mudar…

António Damásio define emoção do seguinte modo: “reacção automática a uma série de ameaças ou oportunidades que se põem a um organismo vivo”. As emoções são então consequência (sobretudo) de estímulos exteriores e predispõem-nos para a acção e a reacção. Se as emoções nos fazem reagir de forma automática, presume-se que essa reacção não depende de nós enquanto opção única da razão, logo, será legítimo afirmar que estamos condenados a trabalhar com elas em todos os processos activos das nossas vidas. Tal como não conseguimos não pensar, também não conseguimos pensar sem emoções. O velho “penso, logo existo” deu hoje lugar ao “sinto, logo existo”.
Todos sabemos que o excesso de emoções nos traz alterações comportamentais. O que não sabíamos é que, sem emoções, não somos capazes de decidir e, pura e simplesmente não decidimos. Daí que seja pertinente levantar a questão: sendo as emoções parte integrante da nossa vida, se a sua ausência ou excesso nos provocam alterações comportamentais, se estamos condenados a viver com elas, será racional da nossa parte deixá-las actuar sem qualquer tipo de controlo ou de influência sobre elas? Será razoável olhar para as emoções sem perguntar como e de que forma nos poderão ser mais úteis?  Como podemos optimizá-las nos nossos actos? E sendo elas um factor fundamental do nosso comportamento, como ter um controlo mais efectivo sobre elas?

Tomemos como exemplo o sistema circulatório do ser humano. O que está a acontecer no meu sistema não afecta o do meu vizinho. Não é isto, de forma alguma, o que acontece no domínio das emoções, porque estas interagem entre os diversos indivíduos. Neste caso falamos em sistema aberto, uma vez que a minha alegria ou a minha tristeza provocam (ou podem provocar) alterações do estado emocional àqueles que comigo lidam. Daí que possamos, no domínio das emoções, falar de “contágio”.

Podemos aqui abordar, a propósito do “contágio” emocional, a “Teoria dos Semáforos” proposta por Ken Ravizza no livro “Heads Up Basketball”. O primeiro passo para gerirmos o que quer que seja é termos a percepção clara do “objecto” a gerir. Neste caso o objecto são as nossas emoções e os comportamentos associados, ou seja, a gestão da nossa compostura.  Quando estamos compostos, confiantes e controlados podemos dizer que estamos num semáforo verde. O semáforo amarelo aparece quando nos sentimos distraídos, frustrados e confusos. Finalmente, nas situações em que perdemos o controlo e só queremos explodir ou desistir, atingimos o semáforo vermelho. Esta analogia entre o desempenho emocional e os semáforos ajuda a ter uma percepção mais clara dos diferentes estados de espírito em que nos encontramos e possibilitará, como irão ter oportunidade de constatar futuramente, gerir melhor emoções e, consequentemente, comportamentos:
Verde – composto, optimista, confiante, focado, determinado, comunicativo, encorajador, postura corporal correcta, agressividade competitiva;
Amarelo – frustrado, inseguro, negativo, queixoso, distante, distraído, confuso, revoltado;
Vermelho – zangado, fora de controlo, apático, resignado, postura corporal incorrecta, assustado, emotivo.
Qualquer atleta já experienciou, por vezes até quase em simultâneo, estes três diferentes estados de compostura. É frequente passar por dois destes estados no decurso de qualquer treino ou competição. É fácil estar no verde quando estamos a jogar bem. Podemos cair no amarelo quando o treino/jogo não corre tão bem ou quando os árbitros apitam de forma diferente da que achamos justa. No vermelho entramos quando começamos a lutar contra nós próprios e a perder o controlo emocional. Num dos próximos textos serão explicadas as formas de detectar sinais amarelos/vermelhos e o que fazer para voltar rapidamente ao semáforo verde do alto rendimento.

Para terminar, deixo-vos as sensações que foram descritas por vários desportistas de alta competição quando questionados sobre o que sentiram nos momentos de melhor rendimento das suas carreiras: “relaxamento mental”, “tempo a passar mais devagar”; “foco no presente”; “percepção elevada do próprio corpo e dos corpos dos atletas à sua volta”; “capacidade máxima de antecipação e resposta”.Em oposição, temos a descrição da sensação mais frequentemente associada ao sinal vermelho: tudo acontece muito depressa

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