terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Sondagem

QUE CONSEQUÊNCIAS PARA EQUIPAS QUE RECUSAM COMPETIÇÕES EUROPEIAS?

Nenhuma
2 (18%)
Multa
3 (27%)
Descida
5 (45%)
Inatel
1 (9%)

Votos apurados: 11
Mais uma vez, o meu muito obrigado a quem ousou participar.
Os resultados, a meu ver, são clarificadores. Clarificadores da importância que os meus leitores dão a esta questão: "quase nenhuma". De facto, num período em que o blog teve mais de 1500 visitantes, apenas 11 votos foram registados. Menos de 1%, o que revela, no mínimo, desinteresse por esta questão. Ou seja, o "cordão umbilical" que nos liga ao continente europeu, pelo menos no que ao basquetebol diz respeito, aparenta estar seriamente em risco...
De entre os que votaram, a maioria (9 votos ou 82%) concorda que não se pode ter consequências iguais caso se aceite ou se recuse o desafio de entrar nas competições europeias. Apenas 2 votantes (18%) consideram que é do maior interesse do basquetebol que as consequências sejam nulas para quem recusar esse desafio.
À semelhança de outras modalidades, em que as equipas que garantem uma classificação que acarreta a representação nacional em competições internacionais são penalizadas caso não honrem essa conquista, também me parece que o basquetebol teria muito a ganhar se, aceitar ou não o desafio de competir na Europa, tiverem futuramente consequências distintas.
A consequência mais votada foi a "Descida", penalização que certamente faria repensar a ligeireza com a qual se toma a decisão de "não ir a jogo"...
A propósito da nossa relação com a Europa, aqui partilho uma transcrição do livro “Portugal Hoje – o medo de existir”, de José Gil (Relógio D’Água, 2008), cuja leitura atenta recomendo vivamente.



“De que tamanho somos, nestes tempos de mudança? Que se levante a questão significa que ainda não ajustámos a nossa estatura real à imagem que dela possuímos. Com tantas imagens de nós todos os dias a indicar-nos uma medida, não atinamos com o tamanho certo. Este, aliás, só se alcançará quando finalmente nos abrirmos a outros povos, a outros países. O nosso verdadeiro tamanho medir-se-á então pelas trocas constantes que com eles tivermos. Constataremos que possuímos um tamanho variável, e que essa variabilidade necessária é função da capacidade de sermos nós (de nos expressarmos, de criarmos) sem dependermos de imagens forjadas por puro auto-espelhamento. Variabilidade própria do nosso tamanho que se exprimirá (em condições ideais) na sua máxima potência (porque estamos agora muito longe desse alvo). Deixaremos finalmente de perguntar «de que tamanho somos nós, portugueses?», porque deixaremos de ter problemas de identidade.
Assiste-se, neste momento inicial do século XXI a um esforço desesperado para afirmar Portugal, quer dizer, para que Portugal subsista, inscrevendo-se na Europa. Isto passa, fundamentalmente, pela inscrição da nossa imagem no espaço internacional (não pela inscrição do nosso trabalho e da nossa criação no plano da produção e criação dos outros países). Interessa-nos menos, por exemplo, estabelecer trocas, intercâmbios, misturas, osmoses, canais de comunicação permanentes com culturas das nações europeias, do que saber que as nossas produções têm grande eco «lá fora».O «lá fora» continua longe de nós.

Ora, todo esse esforço redundará em puro benefício vão, em simples gratificação do ego nacional, enquanto não inscrevermos também as culturas estrangeiras na nossa própria cultura. Como o poderemos fazer se não conseguimos inscrever-nos a nós, na nossa terra, na nossa história e na nossa existência? É porque somos o país da não-inscrição que tanta dificuldade tem em se inscrever na Europa; e que com tão fracas forças se lhe opõe, enquanto aquela irreversivelmente se inscreve com violência no nosso território.
O português adquiriu, dentro de certos limites, reflexos de não obediência à lei. Não obediência não significa desobediência, pelo contrário, é uma maneira de escapar ao ditame estrito dentro do próprio âmbito da lei. Escapa, pois, não escapando à lei geral. Trata-se, no fundo, de não cumprir a lei, mas seguindo uma espécie de jurisprudência muito particular. Como a lei admite sempre um espaço de tolerância, espaço deixado neutro pela possibilidade de diferentes interpretações do seu significado, o português aproveitou imediatamente essa margem de indefinição para aí salvaguardar a sua tendência à não-acção, ao não cumprimento da lei. É a sua tendência à não-inscrição que opera. Faz desse espaço de tolerância um espaço de não-inscrição por excelência. Daí a verdadeira repugnância em cumprir as leis – que não deriva de um qualquer espírito de rebeldia ou de negação do poder, mas da vocação lusitana para o não-acontecimento.

Mas o medo está lá, para tudo regular. Assim se compreende que a zona de comportamentos que escapa à lei, longe de permitir transgressões, incitar ao desacato, fazer eclodir excessos, experiências intensas ou anormais, conduza à resignação, à inércia, à complacência relativa a todas as normas, ao consenso forçado. Essa zona reduz-se, afinal, a uma zona de submissão."


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