Para conquistar o respeito de
treinadores e colegas de equipa deves tentar, como hábito, tomar a decisão
correcta. Independentemente das consequências. Para tal, deves agir com honestidade
e integridade e demonstrar diariamente o teu carácter, respeitando (ou até ajudando a definir) as regras
da equipa e do clube. Isto não significa que tenhas que ser um “anjinho” todo o
tempo ou que nunca seja aceite um erro teu. Implica sim que deves manter a
fasquia comportamental elevada e perceber que tudo o que fazemos está
permanentemente a ser observado. E, sobretudo, compreender que todas as nossas
acções têm sempre um reflexo, positivo ou negativo, no resto da equipa. Sejam
elas acções em treino, em jogo, em viagem com a equipa, na escola, no trabalho,
na vida social ou até em família. Mas ter o carácter necessário para atingir o
alto rendimento desportivo não é fácil. O bem e o mal não se apresentam a preto
e branco. Há muitas zonas cinzentas no basquetebol, assim como na vida...
Dentro do jogo que tanto gostamos
de jogar, o carácter deve revelar-se de várias formas: jogando agressivo mas
não violento; respeitando adversários, árbitros e oficiais; conhecendo e
respeitando as regras; moderando a linguagem; sendo humilde e correcto nas
vitórias e nas derrotas, etc.
Quando pensamos nos grandes
líderes da humanidade (Jesus Cristo, Martin Luther King, Ghandi, Nelson
Mandela, …) notamos que, apesar de todos terem antecedentes diferentes (época,
origem, religião, etc.) todos eles partilham para além do carácter uma
característica decisiva: um gigantesco sentimento de compromisso para com as suas causas. Foram pessoas que
tiveram que dedicar muito tempo e energia ao avanço das suas lutas. Muitos dedicaram
inteiramente as suas vidas e devido ao seu compromisso total atraíram outros
que os seguiram. O compromisso também fornece quantidades incríveis de energia
e motivação para “batalhar” nos tempos difíceis que todos sabemos que serão
parte inevitável de qualquer processo.
Numa equipa, é decisiva a
capacidade de cada atleta assumir o devido compromisso. Quando fazes parte duma
equipa deves estar disposto a investir completamente em ti, ou seja, a dedicar
o teu tempo, a tua paixão e a tua energia a ajudar a equipa a atingir os
objectivos a que se propôs. Deves ter tanta vontade de conquistar esses
objectivos que farás, por eles, o que estiver ao teu alcance, sempre encarando
o teu esforço como um investimento. Um investimento de tempo e energia mas,
acima de tudo, um investimento em ti para alcançar os teus sonhos, os dos teus
colegas, treinadores, clube e cidade. Deves estar preparado para investir tudo no teu sucesso. Já dizia Isiah
Thomas: “Basketball is less a battle of
skills and more a battle of wills”
Quanto aos diferentes graus
de compromisso que podes escolher, aqui fica uma escala que pode ajudar a entender
melhor como tens trabalhado:
Resistente < Relutante < Existente < Concordante < Comprometido < Pró-activo
- (Obcecado)
Resistente –
como o nome sugere, pessoas resistentes resistem à liderança. Têm uma visão
teimosa de como as coisas deviam ser feitas e não estão abertos a serem
influenciados. Frequentemente mostram discordância com as regras da equipa e
opõem-se frontalmente a elas. Queixam-se dos treinadores, colegas de equipa,
treinos, estratégias, etc. Atletas resistentes não ajudam a equipa a atingir as
metas mas, pelo contrário, afastam-na delas;
Relutante –
os relutantes não estão muito dispostos a aceitar os objectivos comuns. Hesitam
para fazer o que lhes é pedido, dando apenas metade do esforço e do entusiasmo.
Os relutantes têm uma atitude de “esperar para ver”. São cépticos quanto ao
compromisso a estabelecer porque acreditam que o esforço não será recompensado;
Existente –
os existentes estão presentes com o seu corpo mas não com o seu espírito. São
assíduos mas dão pouco mais do que a sua presença. São apáticos em relação à
equipa e aos objectivos – ambos têm pouco significado para eles. Treinam com
pouco entusiasmo e para eles é uma surpresa continuar a fazer parte da equipa,
uma vez que contribuem e ganham tão pouco com isso;
Concordante
– atletas concordantes farão o que lhes é pedido por treinadores e líderes na
equipa. São soldados obedientes que fazem o que se espera deles, mas a quem
falta a iniciativa de ir além do que foi pedido. Fazem o suficiente para manter
o nível definido pelo líder mas não fazem qualquer trabalho extra. Para estes
atletas o líder deve fornecer continuamente directrizes e motivação;
Comprometido
– estes atletas são os que fazem esforços suplementares para atingir as metas
colectivas. São auto-motivados, pelo que não necessitam de terceiros a indicar
o que devem fazer ou a supervisionar se realmente o fazem. Tomam a iniciativa e
fazem o que for necessário para chegar às metas propostas;
Pró-activo
– independentemente dos obstáculos, adversidades ou distracções que apareçam no
caminho, pessoas pró-activas encontram sempre uma solução positiva. Não
descansam enquanto não terminam aquilo a que se propuseram. Preparam-se,
treinam e competem sempre ao mais alto nível. Nunca “cortam” caminho nem faltam
a treinos. Alimentam-se e descansam correctamente e aproveitam qualquer
oportunidade para serem melhores. Atletas pró-activos têm expectativas elevadas
em relação a si, mas também em relação aos seus colegas de equipa, mantendo
sempre a fasquia elevada para todos.
Obcecado –
atletas obcecados estão tão consumidos pelo objectivo que perdem a capacidade
de analisar várias perspectivas. A sua incessante corrida em direcção ao
objectivo leva-os (e aos que os rodeiam) a condutas desviantes. Os obcecados
ignoram a necessidade de equilíbrio nas suas vidas, bem como a importância das
fases de recuperação no seu trabalho. Perseguem o objectivo a todo o custo,
sendo aceitável fazer batota, descontrolar a alimentação ou o descanso,
recorrer a dopagem ou outras acções ilegais, pouco saudáveis ou até pouco
éticas. Apesar de altamente comprometidos, a estes atletas faltam normalmente
as competências analíticas e sociais para que sejam respeitados pelos
treinadores e colegas de equipa. A linha entre “Pró-activo” e “Obcecado” é muito
ténue mas essa diferença é decisiva.
Para que o rendimento seja o mais
elevado possível, deves encontrar-te na categoria de “Comprometido” ou na de
“Pró-activo”. Se te avaliaste dentro duma destas categorias, óptimo. No entanto,
mais importante é a avaliação que treinadores e colegas de equipa fazem de ti. Num
cenário ideal, serás avaliado como sendo “Pró-activo”. Se assim for, os teus
colegas e treinadores nutrem um profundo e sincero respeito por ti e pela forma
como trabalhas em equipa. Apenas cerca de 5% de todos os atletas atingem o
nível de “Pró-activo”. Contudo, os que o conseguem tornam-se pessoas realmente especiais
e, naturalmente, atingem níveis de sucesso extraordinários.
O mais importante para a
consistência é perceber que és tu quem escolhe o nível de compromisso que
desejas. Só tu escolhes quão duro será o trabalho que realizares, quão sério
serás para com a tua equipa e o que estás disposto a dar para chegar à meta
proposta.
A parte assustadora da escala de
compromisso é que os “Resistentes” normalmente também são líderes dentro duma
equipa – líderes negativos, mas líderes. Os resistentes influenciam tanto uma
equipa como os líderes positivos, por vezes até mais. Já todos tivemos hipótese
de ver (alguns até de viver) boas equipas a desmoronar-se devido à liderança
negativa no interior da equipa. É da responsabilidade do treinador e dos
capitães de equipa trabalhar em conjunto para prevenir e diluir o
desenvolvimento de lideranças “resistentes”.
Jogar com paixão e entusiasmo
deve fazer parte do teu estado normal. Deixa que o teu amor pelo jogo brilhe e
contagie os teus colegas de equipa. Chega ao treino com um sorriso e preparado para
trabalhar duro. Aprecia os desafios que te são colocados nos treinos e torna-os
divertidos para ti e para os teus colegas. Sim, o treino é trabalho, mas podes
torná-lo divertido se te desafiares a ti próprio e aos teus colegas para isso.
A consistência do teu desempenho
está dependente, como vimos, do teu carácter e do grau de compromisso que
escolhes ter. Deves trabalhar sempre predisposto a fazer mais do que te é
pedido e estar preparado para receber menos reconhecimento do que aquele que julgas
merecer. Não é nada fácil este modo de estar mas quem consegue esta atitude
torna-se, com naturalidade, líder nos diferentes contextos em que estiver
envolvido. E os líderes positivos têm, regra geral, uma atitude do género
“Lidera, segue, ou sai-me da frente”, “Assume ou some-te” ou “Trabalha duro ou
vai para casa”, dificilmente entendida por quem se encontra abaixo na escala do
compromisso.
É tua responsabilidade incutir
este espírito no teu trabalho.
É tua responsabilidade ajudar a incutir este espírito
nos teus colegas.
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