terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Treino Mental - Consistência/Compromisso



Para conquistar o respeito de treinadores e colegas de equipa deves tentar, como hábito, tomar a decisão correcta. Independentemente das consequências. Para tal, deves agir com honestidade e integridade e demonstrar diariamente o teu carácter, respeitando (ou até ajudando a definir) as regras da equipa e do clube. Isto não significa que tenhas que ser um “anjinho” todo o tempo ou que nunca seja aceite um erro teu. Implica sim que deves manter a fasquia comportamental elevada e perceber que tudo o que fazemos está permanentemente a ser observado. E, sobretudo, compreender que todas as nossas acções têm sempre um reflexo, positivo ou negativo, no resto da equipa. Sejam elas acções em treino, em jogo, em viagem com a equipa, na escola, no trabalho, na vida social ou até em família. Mas ter o carácter necessário para atingir o alto rendimento desportivo não é fácil. O bem e o mal não se apresentam a preto e branco. Há muitas zonas cinzentas no basquetebol, assim como na vida...

Dentro do jogo que tanto gostamos de jogar, o carácter deve revelar-se de várias formas: jogando agressivo mas não violento; respeitando adversários, árbitros e oficiais; conhecendo e respeitando as regras; moderando a linguagem; sendo humilde e correcto nas vitórias e nas derrotas, etc.

Quando pensamos nos grandes líderes da humanidade (Jesus Cristo, Martin Luther King, Ghandi, Nelson Mandela, …) notamos que, apesar de todos terem antecedentes diferentes (época, origem, religião, etc.) todos eles partilham para além do carácter uma característica decisiva: um gigantesco sentimento de compromisso para com as suas causas. Foram pessoas que tiveram que dedicar muito tempo e energia ao avanço das suas lutas. Muitos dedicaram inteiramente as suas vidas e devido ao seu compromisso total atraíram outros que os seguiram. O compromisso também fornece quantidades incríveis de energia e motivação para “batalhar” nos tempos difíceis que todos sabemos que serão parte inevitável de qualquer processo.

Numa equipa, é decisiva a capacidade de cada atleta assumir o devido compromisso. Quando fazes parte duma equipa deves estar disposto a investir completamente em ti, ou seja, a dedicar o teu tempo, a tua paixão e a tua energia a ajudar a equipa a atingir os objectivos a que se propôs. Deves ter tanta vontade de conquistar esses objectivos que farás, por eles, o que estiver ao teu alcance, sempre encarando o teu esforço como um investimento. Um investimento de tempo e energia mas, acima de tudo, um investimento em ti para alcançar os teus sonhos, os dos teus colegas, treinadores, clube e cidade. Deves estar preparado para investir tudo no teu sucesso. Já dizia Isiah Thomas: Basketball is less a battle of skills and more a battle of wills



Quanto aos diferentes graus de compromisso que podes escolher, aqui fica uma escala que pode ajudar a entender melhor como tens trabalhado:

Resistente < Relutante < Existente < Concordante < Comprometido < Pró-activo - (Obcecado)

Resistente – como o nome sugere, pessoas resistentes resistem à liderança. Têm uma visão teimosa de como as coisas deviam ser feitas e não estão abertos a serem influenciados. Frequentemente mostram discordância com as regras da equipa e opõem-se frontalmente a elas. Queixam-se dos treinadores, colegas de equipa, treinos, estratégias, etc. Atletas resistentes não ajudam a equipa a atingir as metas mas, pelo contrário, afastam-na delas;

Relutante – os relutantes não estão muito dispostos a aceitar os objectivos comuns. Hesitam para fazer o que lhes é pedido, dando apenas metade do esforço e do entusiasmo. Os relutantes têm uma atitude de “esperar para ver”. São cépticos quanto ao compromisso a estabelecer porque acreditam que o esforço não será recompensado;

Existente – os existentes estão presentes com o seu corpo mas não com o seu espírito. São assíduos mas dão pouco mais do que a sua presença. São apáticos em relação à equipa e aos objectivos – ambos têm pouco significado para eles. Treinam com pouco entusiasmo e para eles é uma surpresa continuar a fazer parte da equipa, uma vez que contribuem e ganham tão pouco com isso;

Concordante – atletas concordantes farão o que lhes é pedido por treinadores e líderes na equipa. São soldados obedientes que fazem o que se espera deles, mas a quem falta a iniciativa de ir além do que foi pedido. Fazem o suficiente para manter o nível definido pelo líder mas não fazem qualquer trabalho extra. Para estes atletas o líder deve fornecer continuamente directrizes e motivação;

Comprometido – estes atletas são os que fazem esforços suplementares para atingir as metas colectivas. São auto-motivados, pelo que não necessitam de terceiros a indicar o que devem fazer ou a supervisionar se realmente o fazem. Tomam a iniciativa e fazem o que for necessário para chegar às metas propostas;

Pró-activo – independentemente dos obstáculos, adversidades ou distracções que apareçam no caminho, pessoas pró-activas encontram sempre uma solução positiva. Não descansam enquanto não terminam aquilo a que se propuseram. Preparam-se, treinam e competem sempre ao mais alto nível. Nunca “cortam” caminho nem faltam a treinos. Alimentam-se e descansam correctamente e aproveitam qualquer oportunidade para serem melhores. Atletas pró-activos têm expectativas elevadas em relação a si, mas também em relação aos seus colegas de equipa, mantendo sempre a fasquia elevada para todos.

Obcecado – atletas obcecados estão tão consumidos pelo objectivo que perdem a capacidade de analisar várias perspectivas. A sua incessante corrida em direcção ao objectivo leva-os (e aos que os rodeiam) a condutas desviantes. Os obcecados ignoram a necessidade de equilíbrio nas suas vidas, bem como a importância das fases de recuperação no seu trabalho. Perseguem o objectivo a todo o custo, sendo aceitável fazer batota, descontrolar a alimentação ou o descanso, recorrer a dopagem ou outras acções ilegais, pouco saudáveis ou até pouco éticas. Apesar de altamente comprometidos, a estes atletas faltam normalmente as competências analíticas e sociais para que sejam respeitados pelos treinadores e colegas de equipa. A linha entre “Pró-activo” e “Obcecado” é muito ténue mas essa diferença é decisiva.



Para que o rendimento seja o mais elevado possível, deves encontrar-te na categoria de “Comprometido” ou na de “Pró-activo”. Se te avaliaste dentro duma destas categorias, óptimo. No entanto, mais importante é a avaliação que treinadores e colegas de equipa fazem de ti. Num cenário ideal, serás avaliado como sendo “Pró-activo”. Se assim for, os teus colegas e treinadores nutrem um profundo e sincero respeito por ti e pela forma como trabalhas em equipa. Apenas cerca de 5% de todos os atletas atingem o nível de “Pró-activo”. Contudo, os que o conseguem tornam-se pessoas realmente especiais e, naturalmente, atingem níveis de sucesso extraordinários.

O mais importante para a consistência é perceber que és tu quem escolhe o nível de compromisso que desejas. Só tu escolhes quão duro será o trabalho que realizares, quão sério serás para com a tua equipa e o que estás disposto a dar para chegar à meta proposta.

A parte assustadora da escala de compromisso é que os “Resistentes” normalmente também são líderes dentro duma equipa – líderes negativos, mas líderes. Os resistentes influenciam tanto uma equipa como os líderes positivos, por vezes até mais. Já todos tivemos hipótese de ver (alguns até de viver) boas equipas a desmoronar-se devido à liderança negativa no interior da equipa. É da responsabilidade do treinador e dos capitães de equipa trabalhar em conjunto para prevenir e diluir o desenvolvimento de lideranças “resistentes”. 



Jogar com paixão e entusiasmo deve fazer parte do teu estado normal. Deixa que o teu amor pelo jogo brilhe e contagie os teus colegas de equipa. Chega ao treino com um sorriso e preparado para trabalhar duro. Aprecia os desafios que te são colocados nos treinos e torna-os divertidos para ti e para os teus colegas. Sim, o treino é trabalho, mas podes torná-lo divertido se te desafiares a ti próprio e aos teus colegas para isso.

A consistência do teu desempenho está dependente, como vimos, do teu carácter e do grau de compromisso que escolhes ter. Deves trabalhar sempre predisposto a fazer mais do que te é pedido e estar preparado para receber menos reconhecimento do que aquele que julgas merecer. Não é nada fácil este modo de estar mas quem consegue esta atitude torna-se, com naturalidade, líder nos diferentes contextos em que estiver envolvido. E os líderes positivos têm, regra geral, uma atitude do género “Lidera, segue, ou sai-me da frente”, “Assume ou some-te” ou “Trabalha duro ou vai para casa”, dificilmente entendida por quem se encontra abaixo na escala do compromisso.

É tua responsabilidade incutir este espírito no teu trabalho.
É tua responsabilidade ajudar a incutir este espírito nos teus colegas.


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